Varejo defende abertura comercial e importação direta de bens duráveis
O varejo brasileiro enxerga no viés econômico liberal da equipe de Jair Bolsonaro a chance de retomar o ciclo de crescimento e tornar-se mais competitivo. Entidades defendem maior abertura comercial, inclusive a importação direta de bens de consumo duráveis pelos lojistas.
“Principalmente no setor do varejo, é fundamental que sejam adotadas medidas de abertura econômica, como por exemplo uma simplificação tributária e, em termos de burocracia, que possibilite o investimento externo”, argumenta o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo (FecomércioSP), Altamiro Carvalho.
De acordo com o especialista da entidade, a obrigatoriedade dos varejistas comprarem produtos importados apenas por meio de distribuidores locais torna o mercado “extremamente restrito” em termos de oferta.
“O segmento de bens duráveis, por exemplo, é um dos que vem registrando uma gradual recuperação. Esse mercado é um dos mais carentes em termos de investimento tanto externo quanto nacional. Com a importação direta, haveria maior diversidade de produtos no Brasil”, ressaltou Carvalho, lembrando que o “excesso de burocracia” já prejudicou o ingresso de alguns players internacionais interessados nessa linha de produtos.
Segundo a última edição da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), de outubro, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o segmento de eletrodomésticos registrou avanço de 2,9% em volumes de vendas no acumulado dos últimos 12 meses.
Para Carvalho, os comerciantes de bens duráveis sofreram com a “deterioração das condições econômicas das famílias” nos últimos anos, mas com maior investimento no segmento e acesso ao crédito para o consumidor, existe “grande chance de retomada”.
Em linha com o raciocínio do economista da FecomércioSP, o superintendente de estatísticas públicas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Aloisio Campelo, afirma que os maiores impactos das políticas liberais da equipe econômica do Executivo devem ser sentidos em setores menos “pulverizados”.
“Esse movimento de concorrência mais acirrada, inclusive com a entrada de companhias estrangeiras no Brasil, dependerá de questões regulatórias e da confiança dos empresários”, esclarece.
De acordo com ele, uma das possíveis medidas que poderiam ser adotadas diz respeito ao maior acesso ao crédito por parte do consumidor e, consequentemente, o estabelecimento de um sistema nacional de informação sobre o perfil “de bom pagador” do brasileiro. “No setor do comércio, vemos uma preocupação sobre as novas modalidades de crédito e reputação do próprio consumidor”, afirmou.
De acordo com Campelo, a criação do Cadastro Positivo pode fazer com que o grau de inadimplência na maioria dos segmentos do varejo seja monitorado com mais atenção. Conforme dados divulgados pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em novembro de 2018 a taxa de inadimplência cresceu 6,03% na comparação com o mesmo período do ano anterior, atingindo 63,1 milhões de brasileiros negativados.
Além disso, considerando outras medidas benéficas ao setor do comércio, o especialista menciona que o investimento em infraestrutura – como por exemplo a construção de novas rodovias – elevaria a eficiência do mercado, já que reduziria custos com logística.
Alinhamento político
O presidente da União Nacional das Entidades de Comércio e Serviços (Unecs), Paulo Solmucci, ressalta a importância da aproximação do setor com o Congresso e reuniões periódicas de representantes com a equipe econômica do governo para alinhar os interesses comuns entre as partes.
“As conversas com o ministro da Economia Paulo Guedes foram boas. Levamos para ele temas centrais, como por exemplo a descentralização bancária, a necessidade de queda dos juros e estabelecimento do Cadastro Positivo”, argumentou Solmucci.
Fonte: DCI